3. O direito de saber-se pobre

O direito universal aos conhecimentos da produção social da pobreza

O direito aos conhecimentos acumulados sobre a produção da pobreza não é apenas dos coletivos empobrecidos, mas também de todo(a) cidadão(ã). Os estudos sobre o currículo avançaram na compreensão de que todo cidadão e cidadã tem direito a todos os conhecimentos. As instituições educativas se reconhecem como espaços-tempos de garantia desse direito ao conhecimento. Por que a relação entre currículo e pobreza teria ficado ausente ou como um tema à margem se é uma das experiências históricas vividas por milhões de seres humanos? Por que deixar de lado nos currículos os conhecimentos que permitem a todo(a) cidadão(ã) entender os processos sociais, econômicos, políticos, culturais de produção, reprodução e manutenção da pobreza?

Há ainda um dado a ser ponderado para aprofundar essas questões: há muita produção de conhecimento sobre a pobreza, por meio de pesquisas e análises, nas diversas áreas do conhecimento, como Sociologia, História, Geografia, Antropologia, Economia etc. Além disso, esse tema tem estado presente até mesmo nas diversas artes e linguagens, como literatura, cinema, pintura, fotografia, grafite, música. Contudo, por que essa pluralidade de conhecimentos produzidos sobre a pobreza não entra nos currículos de educação básica ou está inserida de maneira marginal?


Poderíamos levantar algumas hipóteses para tentar responder à indagação feita com relação à ausência desse tema nos currículos. A primeira delas seria que esse é um assunto incômodo para as teorias pedagógicas, pois abordá-lo implicaria reconhecer as falhas e a ineficácia do processo civilizatório do qual tais teorias fazem parte. Outra hipótese possível relaciona-se à constante presente na cultura política e pedagógica de que os(as) pobres são responsáveis por sua condição. Logo, ao ser pensada dessa forma, a pobreza deixa de ser uma produção social, econômica, política, cultural e, consequentemente, não se torna objeto do conhecimento universal, social, político e cultural a ser incluído nos currículos. Se essa visão não for superada, não haverá como avançar na incorporação dos conhecimentos sobre a pobreza acumulados pela diversidade das ciências.

Quando esse acúmulo de conhecimentos for reconhecido como um bem público, será possível avançar para o reconhecimento desses conhecimentos como direito universal de todo cidadão e cidadã, não apenas dos(as) pobres de saberem sobre sua condição. Portanto, incorporar nos currículos de Educação Básica os conhecimentos acumulados sobre a história da produção social, econômica, política, cultural da pobreza não é apenas em razão do direito dos(as) educandos(as) e coletivos pobres a saberem-se nessa história que os vitimou e vitima, mas é também dever dos currículos garantir esse conhecimento universal e histórico a todos(as).

Figura produzida pela Equipe de Criação e Desenvolvimento com base em fotografia de Omena (2006) e texto do autor.